Cecília Meireles, poeta, ensaísta,
cronista, folclorista, pintora, tradutora e educadora, nasceu no Rio de Janeiro
em 7 de novembro de 1901. Seu pai faleceu meses antes de seu nascimento e aos 3
anos perdeu a mãe. Órfã, foi criada pela avó materna.
Cecília
Benevides de Carvalho Meireles fez o curso primário na Escola Estácio de Sá,
por ter feito o curso com louvor e distinção recebeu das mãos de Olavo Bilac a
medalha do ouro. Em 1917 formou-se professora na Escola Normal do Rio de
janeiro. Estudou música e línguas, literatura, folclore e teoria educacional. Exerceu
o magistério e foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura
brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreou na literatura
com o livro "Espectros"" com 17 sonetos de temas históricos. Sua
poesia foi traduzida para diversos idiomas, incluindo híndi e urdu, e musicada
por muitos artistas. Mais conhecida como poetisa, porém, deixou
contribuições no domínio do conto, da crônica, da literatura infantil e do
folclore.
Participou do grupo católico conservador, da
revista Festa, por ocasião da Semana de Arte Moderna de 1922, ano que se casa
com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três
filhas. Nos anos 1930 e 1931, como jornalista, escreveu na imprensa
sobre folclore. e publicou artigos sobre educação e em 1934 fundou a primeira
biblioteca infantil no Rio de Janeiro, e dedicou a publicar livros didáticos e
poemas infantis, e neste mesmo ano a convite do governo português, viaja para
Portugal, fez conferências divulgando a
literatura e o folclore brasileiros. Fica viúva após 13 anos de casada. Seu
marido cometeu suicídio, vítima de depressão. Entre 1936 e 1938, lecionou
Literatura Luso-Brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1938,
o livro de poemas “Viagem” recebe o Prêmio de Poesia, da Academia Brasileira de
Letras. Em 1940, se casou com Heitor Vinícius da Silveira
Grilo, professor e engenheiro agrônomo. Nos EUA, leciona Literatura e
Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Faz conferências sobre Literatura
Brasileira em Coimbra e Lisboa e nesta publica o ensaio "Batuque, Samba e
Macumba", com ilustrações dela própria.
Em 1942 torna-se sócia honorária do Real Gabinete
Português de Leitura do Rio de Janeiro. Realiza
viagens ao exterior (Estados Unidos, Europa, Ásia e África), proferindo
conferências sobre Literatura, Educação e Folclore.
Em 1953, foi agraciada com o título de “Doutora Honoris Causa” pela Universidade
de Déli, na Índia e no Chile, foi inaugurada a “Biblioteca Cecília Meireles” em
1964 na província de Valparaíso.
Cecília Meireles não se apegou a nenhum
movimento literário, suas poesias sim, às tradições da lírica luso-brasileira, embora
as publicações iniciais se voltam para o Simbolismo, reúnem religiosidade,
desespero e individualismo, misticismo no campo da solidão, mas, consciência
de seus dons e seu destino, de caráter intimista com forte influência da psicanálise com foco
na temática social, na segunda fase do modernismo no Brasil, destacou-se no
grupo de poetas que consolidaram a "Poesia de 30", ingressa no
espírito poético da escola modernista com o livro Viagem (1939), cuidadosa com a seleção vocabular, teve inclinou-se
para a musicalidade (traço associado ao Simbolismo), para o verso
curto e para os paralelismos, a exemplo dos versos das poesia medieval
portuguesa, onde os elementos: vento, água, mar, ar, tempo, espaço, solidão e a
música confirmam a inclinação neossimbolista, enquanto na poesia
reflexiva, de fundo filosófico, abordou temas como a transitoriedade da vida, o
tempo, o amor, o infinito e a natureza. Intuitiva, questionadora, tentou compreender
o mundo a partir das próprias experiências, mas os maiores valores de sua poética,
fica bem visível no poema épico-lírico Romanceiro da Inconfidência, escrita em homenagem aos heróis que lutaram e
morreram pela Pátria:
Romanceiro da Inconfidência
Atrás de portas
fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
E diz o vigário ao Poeta:
“Escreva-me aquela letra
do versinho de Virgílio...”
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
antes que tal verso escrevam...”
Liberdade, Ainda que Tarde, (...)
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
E diz o vigário ao Poeta:
“Escreva-me aquela letra
do versinho de Virgílio...”
E dá-lhe o papel e a pena.
E diz o Poeta ao Vigário,
Com dramática prudência:
“Tenha meus dedos cortados,
antes que tal verso escrevam...”
Liberdade, Ainda que Tarde, (...)
"Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira".
"Tenho fases, como a Lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua".
"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda".
"Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação de meus desejos afligidos"
Cecília Meireles faleceu no Rio de Janeiro, no
dia 9 de novembro de 1964, aos 63 anos de idade, vítima de câncer.
O Banco Central, em 1989, fez uma homenagem a
Cecília Meireles, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.
Cecília Meireles nos deixou as seguintes obras:
Espectros,
poesia (1919)
Nunca Mais... e Poema dos
Poemas (1923)
Baladas Para El-Rei,
poesia (1925)
Viagem, poesia (1925)
Viagem, poesia (1939)
Vaga Música,
poesia (1942)
Mar Absoluto,
poesia (1945)
Evocação Lírica de Lisboa,
prosa (1948)
Retrato Natural,
poesia (1949)
Doze Noturnos de Holanda,
poesia (1952)
Romanceiro da
Inconfidência, poesia (1953)
Pequeno Oratório de Santa
Clara, poesia (1955)
Pístóia, Cemitério Militar
Brasileiro, poesia (1955)
Canção, poesia (1956)
Giroflê, Giroflá, prosa
(1956)
Romance de Santa Cecília,
poesia (1957)
A Rosa, poesia (1957)
Eternidade em Israel,
prosa (1959)
Metal Rosicler,
poesia (1960)
Poemas Escritos Na
Índia (1962)
Antologia Poética,
poesia (1963)
Ou Isto Ou Aquilo, poesia (1965)
Escolha o Seu Sonho,
crônica (1964)
Cecília Meireles recebeu diversos
prêmios, dos quais se destacam:
Prêmio de Poesia
Olavo Bilac
Prêmio Jabuti
Prêmio Machado de
Assis
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