quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Carn Aval




                                                                             
A separação do título é proposital.

O termo carnaval, já existia no século XI, é quase certo ter se originado do latim "carnis"  carne, e "valles"  prazeres.

Na  Roma dos césares, tais festejos ligados às saturnálias,  de caráter orgíaco,  era dado ao povo o direito de escolher seu rei, mesmo que de mentirinha, para comandar os festejos, onde trocavam presentes,  e
comida, bebida, e sexo só parava na terça feira, considerada o dia do adeus à carne, tendo que as despensas serem zeradas,   farinha e ovos utilizados para fazer crepes, e os sonhos de carnaval, sim, estes mesmos que se compra em nossas padarias, energizava os foliões, e a sobra jogavam uns nos outros.

Na Grécia antiga, não era diferente,  escolhiam o rei Momo, uma das formas de Dionísio, o deus Baco, (daí, bacanal), patrono do vinho e do seu cultivo e em honra a colheita, curtiam aqueles sete dias de folia.

Um rei... troca de presentes... dezembro! O AVAL  religioso, se dá para estancar aquelas festas pagãs, daí fixam o 25 de dezembro,  como NATAL, em comemoração ao nascimento de Jesus Cristo, que as escrituras sagradas demonstram não ter Ele nascido no  inverno. Não havendo a prática de se guardar datas de nascimento, fácil passar,  mais tarde o povo paga pelo registro de nascimento em cartório.

Mas, alguns setores festejam o 6 de Janeiro, que, aos poucos, com AVAL, associam à chegada dos Reis Magos, e o 25 de dezembro converte-se numa festa familiar com tradições pagãs, em parte germânicas e em parte romanas e sob influência franciscana, espalha-se, o costume aos cristãos, dos presépios, reconstituindo a cena do nascimento de Jesus; vindo a árvore, já no século XVI, e dependendo do local passa a ser o bom velhinho, mais tarde, com indumentária vermelha, cores de um grande patrocinador, o mais consagrado.

E o carnaval da liberdade?  Mantém fixa a terça feira, considerada gorda, mas, a quarta a seguir passa a ser de cinzas, primeiro dia do jejum, a quaresma, período de quarenta dias de penitência e privação até à ressureição.

No Brasil,o carnaval é introduzido pelo entrudo de Portugal e não dos escravos,  europeisado,  carros conversíveis, os corsos; e nos cordões com  ritmos instrumentais de polcas e, charleston; e nos salões, máscaras importadas, introduzidas na europa pelo papa Paulo II.

Até hoje o povo se vê, naquelas fantasias trazidas da comédia italiana, afinal,  a vilã Colombina, deixa o romântico Pierrô, pelo rival, o Arlequim.

Aquela trilogia foi tema de uma bela música, cantada até hoje, mas, aquele ritmo brasileiro foi apresentado pela maestrina Chiquinha Gonzaga, que analisando a música dos cordões, percebe que  era como passos de marcha, e cria em 1889 "Ó abre alas". O ritmo agrada a todas as classes e  dita  por muito tempo, o ritmo de carnaval.

Ó ABRE ALAS





Ó abre alas que eu quero passar

Ó abre alas que eu quero passar

Eu sou da lira não posso negar

Eu sou da lira não posso negar



Ó abre alas que eu quero passar

Ó abre alas que eu quero passar

Rosa de ouro é que vai ganhar

Rosa de ouro é que vai ganhar


O samba, que não tinha vez, coisa do malandro, do morro, fez inspirar Ismael Silva e junto com companheiros de rodas de samba, passam a ensaiar o samba na Rua do Estácio, e como ao lado havia uma escola normal,chamam aquele reduto de "escola de samba" Deixa Falar, que influencia outros bairros, surgindo outras  "escolas de samba", que a Delegacia de  Costumes e Diversões, exige alvarás de licenciamento, proibe os nomes esdrúxulos, daí a sigla GRES  Grémio Recreativo Escola de Samba, e  como exmplo a  "Vai Como Pode" do bairro de Madureira, passa a ser GRES Portela.

Em 1932 promovido por um jornal de propriedade do jornalista Mário Filho, se dá o primeiro concurso de escolas de samba, sendo o GRES Mangueria, a campeã e com a ascensão do samba e o  declínio dos ranchos, cordões e, corsos. Os sambistas aproveitam o samba o enredo, o mestre-sala e a porta-bandeira e a comissão de frente e levam para as escolas de samba.

Os desfiles passam a ser adotados por boa parte dos estados. No norte e nordeste incrementam as tradições, como o frevo e o maracatu, e surge em Salvador, o trio elétrico, de Dodô e Osmar e atrás do trio, só não vai quem já morrera.

Os sambódromos espalham-se pelo Brasil. No Rio, a fama do maior espetáculo da terra.

O carnaval é do povo? Talvez fosse, hoje vai se contentando a juntar dinheiro para desfilar, ou comprar seu abadá, e quem não tem grana dança!

Nos salões a classe mais abastada já não se empolga tanto, preferem as luzes dos camarotes dos desfiles para  serem capa de revistas.

E o povo? Sem pode pagar ingressos caros, contentam-se com as arquibancadas do início do desfile, ou se expreme na arquibancada do povo, ao lado do mangue, a "cheirosa".

Mas, dos bons sambas o povo não esquece, a escola aquece com o que ficou na memória, e das marchinhas, nem se fala, as mais antigas são as mais tocadas e cantadas, quer nos salões, quer da multidão que desfila pelas rua, no Bola Preta, nas Carmelitas, na Banda de Ipanema, ou no bloco de sujo que passa , sem nome, sem documento, curtindo simplesmente,  aquele momento único de liberdade, que ainda é o carnaval.

E o Natal, bom, aos de fé, não importa a data, louvemos ao Senhor!

Neste 28 de fevereiro , há 78 anos, dias depois do carnaval,  Chiquinha Gonzaga, nos deixava, e pelas datas confirma-se o que escrevemos acima.


O TEU CABELO NÃO NEGA


                                                    Lamartine Babo-Irmãos Valença, 1931



O teu cabelo não nega mulata

Porque és mulata na cor

Mas como a cor não pega mulata

Mulata eu quero o teu amor



Tens um sabor bem do Brasil

Tens a alma cor de anil

Mulata mulatinha meu amor

Fui nomeado teu tenente interventor

Quem te inventou meu pancadão
Teve uma consagração
A lua te invejando faz careta
Porque mulata tu não és deste planeta

Quando meu bem vieste à terra
Portugal declarou guerra
A concorrência então foi colossal
Vasco da gama contra o batalhão naval





ALLAH-LÁ-Ô

                                                      Haroldo Lobo-Nássara, 1940

Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô

Mas que calor, ô ô ô ô ô ô
Atravessamos o deserto do Saara
O sol estava quente
Queimou a nossa cara

Viemos do Egito
E muitas vezes
Nós tivemos que rezar
Allah! allah! allah, meu bom allah!
Mande água pra ioiô
Mande água pra iaiá
Allah! meu bom allah.





Pintura à guache pelo autor "Carnaval" 

2 comentários:

  1. Maravilhoso!!Uma aula de história.
    Eh,a igreja...Sem comentários.

    E não importa a data mesmo,que tenhamos Ele sempre no coração,e a alegria vai estar presente.

    Beijão

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  2. Sem palavras...
    Uma aula que deveria ser publicada na wikipédia, o que aliás, estou tentadco a faze-lo.

    Parabéns, querido!

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