segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O Soneto - Francesco Petrarca


Francesco Petrarca, italiano de Arezzo, nasceu em 20 de julho de 1304, poeta e humanista, orador eloquente. Homem de muitas facetas, foi protegido pelos papas, dedicou-se ao estudo das obras de Cícero, Virgílio e Horácio, foi um dos primeiros grandes bibliófilos da Europa, sendo considerado pai do Humanismo, e um dos precursores do renascimento italiano. Em 1327, em uma sexta-feira Santa, a visão de uma mulher chamada Laura na Igreja de Santa Clara de Avinhão, despertou em Petrarca uma paixão, celebrada nas “Rime sparse"). Mais tarde, poetas renascentistas deram o nome a essa coleção de 366 poemas de Il Canzoniere ("O Cancioneiro"). Laura pode ter sido Laura de Noves, esposa de Hugues de Sade, mas, Petrarca sempre negou. Não podendo amá-la, do soneto fez a cruz de seu calvário, libertou em seus versos sua paixão reprimida, e a loucura deste seu sentimento ganhou o mundo.
O tipo de soneto mais comum, não poderia deixar de ser chamado, soneto petrarquiano ou regular:

                  XXXII

Quanto mais perto estou do dia extremo
Que o sofrimento humano torna breve,
Mais vejo o tempo andar veloz e leve
E o que dele esperar falaz e menos.

E a mim me digo: Pouco ainda andaremos
De amor falando, até que como neve
Se dissolva este encargo que a alma teve,
Duro e pesado, e a paz então veremos:

Pois que nele cairá essa esperança
Que nos fez delirar tão longamente
E o riso, e o pranto, e o medo, e também a ira;

E veremos o quão freqüentemente
Por coisas dúbias o ânimo se cansa
E que não raro é em vão que se suspira.


O Soneto é uma pequena composição poética composta de 14 versos, com número variável de sílabas, sendo o mais frequente o decassílabo, e cujo último verso concentra em si a ideia principal.
Além do petrarquiano ou regular, temos:

O Soneto Inglês, criado por Willian Shakespeare (1564-1616), composto de 3 quartetos (estrofes de quatro versos) e um dístico (estrofe de dois versos).
O soneto monostrófico, que como o próprio nome diz, possui uma única estrofe de quatorze versos.
O soneto estrambótico, com versos ou estrofes adicionais.
Nos sonetos, as sílabas poéticas ou métricas diferem das sílabas gramaticais, sendo “escansão” o termo utilizado para indicar a contagem dos sons dos versos, sendo que a rima é a concordância de sons estabelecida entre as palavras do poema.

Francesco Petrarca deixou trabalhos em latim: poemas épicos, obras históricas e filosóficas. Dos ensaios e cartas, destaca-se o “Secretum”, dos tratados: “Rerum Memorandarum Libri”, sobre questões de ordem moral. O “Itinerarium” (seu guia para a Terra Santa), tornou-se guia de viagem e “Carta para a Posteridade”, sua autobiografia tendo seguidores no movimento poético, denominado Petrarquismo, nos séculos XV e XVII.

No dia 19 de julho de 1374, foi encontrado morto com a cabeça recostada num volume de Virgílio, em Aquirà, na região de Mântua, Itália.

No Brasil, se destacaram na produção de sonetos:
Gregório de Matos Guerra (1636-1696)
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789)
Cruz e Sousa (1861-1898)
Olavo Bilac (1865-1818)
Augusto dos Anjos (1884-1914)
Vinicius de Moraes (1913-1980)

E foi Vinícius de Moraes que produziu em 1960 o mais emblemático dos sonetos brasileiros modernos:

 “Soneto de Fidelidade”

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.




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