quarta-feira, 11 de setembro de 2019

José Saramago


José de Sousa, teve adicionado o sobrenome  Saramago, de forma espontânea pelo funcionário do cartório em alusão ao apelido da família, conhecida na aldeia por Saramago (Saramago, nome de uma planta da família das herbáceas cujas folhas, serviam como alimento na cozinha dos pobres), e foi como José Saramago, que se fez, poeta, contista, romancista e teatrólogo, sendo a maior expressão da literatura portuguesa contemporânea. Nasceu no dia 16 de novembro de 1922, em Azinhaga de Ribatejo, distrito de Santarém, Portugal, mas, registrado em 18 de novembro. Filho dos camponeses, José de Sousa e Maria da Piedade, somente aos sete anos, teve ciência do sobrenome Saramago, quando da matrícula na escola primária exigiram um documento de identificação. Sua família deixou o campo indo para Lisboa, prevendo melhora das finanças, e condições, de no futuro garantir bons colégios ao filho, que então tinha apenas 2 anos, mas, não sendo possível o matricularam em um colégio de ensino profissional Se formou em serralheiro mecânico, mas, teve contato com o Francês, e Literatura. Trabalhou em uma oficina de reparos em automóveis. Autodidata, quer pela curiosidade, quer pela vontade de aprender, desenvolveu e apurou o gosto pela literatura,  lhe abrindo as portas para a fruição literária. Casou-se com Ilda Reis, aos 22 anos, nascendo em 1947, sua única filha, Violante.  Exerceu cargo público na área da saúde e da Previdência Social, mas, não se desligou da literatura, ao contrário, leu muito sobre filosofia e história, e com 25 anos, fez sua estreia, com o romance “Terra do Pecado”. Diretor literário de uma editora, e jornalista, a partir de 1955, dedicou-se as traduções até 1981. Tolstoi, Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Hegel, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Raymond Bayer foram alguns dos autores que traduziu. Manteve contrato com vários jornais e revistas: Diário de Lisboa, A Capital e a Seara Nova, neste exerceu a função de cronista. Levou 35 anos para passar para a história e ver seus livros traduzidos para mais de 25 línguas. A sua obra literária passou por várias fases: da poesia, com "Os Poemas Possíveis" (1966), “Provavelmente Alegria” (1970), ano em que se divorciou, iniciando uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega, que durou até 1986, da crônica: “Deste Mundo e do Outro” (1971);  do teatro, com a peça “A Noite” (1979), cujo cenário era uma redação de um jornal, tendo recebido o Prêmio da Associação de Críticos Portugueses; e da ficção com o romance “Manual de Pintura e Caligrafia” (1976);  e pelos contos “Objeto Quase” (1978) e “Poética dos Cinco Sentidos” (1979). Sem emprego, por razões da situação política, resolveu se dedicar inteiramente à literatura, e no princípio de 1976, foi para Lavre, povoação rural da província do Alentejo e de lá sai o romance “Levantando do Chão” (1980), vindo a ser best-seller internacional, recebendo o “Prêmio Cidade de Lisboa”; já com “Memorial do Convento” (Obra de 1982, que fala sobre a construção do convento de Mafra, nos arredores de Lisboa, fez com que Federico Fellini, dizer ser a uma das obras mais interessantes que já lera, cujo enredo, sobre um casal de amantes tentando fugir da inquisição com uma máquina voadora, em 1990 deu origem a uma ópera em estilo italiano, apresentada no teatro La Scala, em Milão; “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984), “A Jangada de Pedra” (1988) e “História do Cerco de Lisboa” (1989), desenvolveu uma espécie de historicismo fantástico; e ainda publicou um título no campo da literatura infanto-juvenil, “A Maior Flor do Mundo” (2001), em parceria com o ilustrador João Caetano, que recebeu o Prêmio Nacional de Ilustração. José Saramago pertenceu à primeira Direção da Associação Portuguesa de Escritores. Foi presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores, entre 1985 e 1994. Em consequência das atribuições do Prêmio Nobel, a partir de 1998, conheceu todos os continentes, fez conferências, reuniões e congressos, de caráter literário, social ou político, e, cumpriu ações reivindicativas da Declaração dos Direitos Humanos. Constituiu a Fundação José Saramago  em 29 de junho de 2007, para a defesa e difusão da Declaração Universal dos Direitos Humanos e dos problemas do meio ambiente. Em 2012 a fundação abriu as suas portas ao público na Casa dos Bicos em Lisboa, sendo presidida por Pilar de Rio, sua esposa desde 1988. Diversas frases suas, ficaram famosas: "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar"; "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo"; "Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."; "Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória"; "O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio"; "Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo"; "A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada”; “Se podes olhar, vê; Se podes ver, repara”,  (ensaio da cegueira, que em 2008, seu livro foi transformado em filme, pelo diretor brasileiro Fernando Meirelles e como protagonistas  atriz Julianne Moore e o ator Mark Ruffalo no elenco); “ E se as histórias para crianças passassem a ser leitura obrigatória dos adultos? Seriam eles capazes de aprender realmente o que há tanto tem têm andado a ensinar?” Sua crítica afiada e a descrição minuciosa estão entre as características de sua obra. A pontuação não é convencional. Os pontos finais aparecem ao fim dos parágrafos, que podem ser longos e os travessões foram excluídos. A interpretação da fala dos personagens é, muitas vezes, confundida com a auto reflexão, e mesclou personagens reais com fictícios, exemplos de Memorial do Convento (1982) e a Viagem do Elefante (2008). José Saramago era comunista declarado e o pensamento é evidenciado em sua obra, mas, dizia que não escrevia para servir à ideologia ou ao ativismo político, tanto que fez duras críticas ao regime Cubano, por prender dissidentes políticos. Também fazia duras e ácidas críticas à igreja católica e seus dogmas, tanto que no romance O Evangelho Segundo Jesus Cristo, lançado em 1991, foi censurado pelo governo de Portugal que o considerou ofensivo aos católicos. No romance, mostra que Jesus é filho de José e não de Deus. No lançamento do romance “Caim” em 2009, José Saramago, afirmou que a Bíblia era “um manual de maus costumes e um catálogo do que há de pior na natureza humana”. O escritor morreu em 18 de junho de 2010, morreu em uma sexta-feira aos 87 anos, na presença da terceira esposa, a jornalista espanhola Pilar Del  Rio, que fazia a tradução de seus livros para o espanhol, e da família, em sua casa, em Lanzarote, nas Ilhas Canárias (Espanha), vítima de falência múltipla dos órgãos, após longo tratamento da leucemia, deixando uma obra cujo realismo mágico se misturava à crítica política e à simpatia pelos oprimidos.  
Prêmios recebidos: 
Comendador da Ordem Militar de Santiago de Espada (1985), Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras Francesas (1991), Prêmio Camões (1995), Prêmio Nobel de Literatura (1998), Doutor Honoris Causa (1999), pela Universidade de Nottinghan, na Inglaterra, Doutor Honoris Causa (2004), pela Universidade de Coimbra. 
  Suas obras:
Terra do Pecado, 1947
Os Poemas Possíveis, 1966
Provavelmente Alegria, 1970
Deste Mundo e do Outro, 1971
A bagagem do Viajante, 1973
O Ano de 1993, 1975
Os Apontamentos, 1976
Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
Objeto Quase, 1978 (conto esse que viria dar nome ao filme Embargo, uma produção portuguesa em co-produção com o Brasil e Espanha)
Poética dos Cinco Sentidos, 1979
A Noite (1979)
Levantado do Chão (1980)
Viagem a Portugal, (1981)
Memorial do Convento, 1982
O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
A Jangada de Pedra, 1986
A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987
História do Cerco de Lisboa, 1989
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
A Caverna, 2000
O Homem Duplicado, 2002    (Adaptado para o cinema em 2014 direção de Denis Villeneuve e  ator principal Jake Gyllenhaal)
Memórias, 2006
O Caderno, 2009
Caim, 2009



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