Para
quem conheceu, a oportunidade de passear de novo, àqueles que não, deem tratos
a imaginação; convido-os a abrir o portão e entrar. — Vamos!
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Tela em guache pintura autoral |
Passando por debaixo desta cerca de fícus, logo à esquerda, repare este enorme
cajueiro, não cresceu para cima,
curvou-se, como a se espreguiçar, o que facilita para subir no tronco, sentar,
e escolher este aqui amarelo
avermelhado, castanha grande, não a jogue fora, junte para depois assar.
Vamos descer! Veja este enorme pendão, saído desta planta, que não sei o nome,
ao contrário do cajueiro, o pendão parece querer alcançar o céu, se parece com
estes pés de pita, cuidado com os espinhos! As vizinhas pedem as folhas, serve
para dar banho em cachorro com doenças, queda de pelo. Veja os sabiás, comendo
aquele mamão maduro! Ali os sanhaços comem as goiabas brancas. — Puxa, quantas
jacas, algumas se recostam até embaixo,
aqui na raiz. — Este pé é de jaca
dura. — E isto? — É abiu, coma um, mas, cuidado
com o visgo! Do lado direito veja estas mangueiras! Esta enorme é manga espada
graúda; esta ao lado também, só que é espadinha, o bom é assim, comê-las aqui
em cima mesmo sem deixá-la cair; já a carlotinha, ali de fronte da casa,
podemos pegá-las assim, devido ao talo longo que com o peso bate quase no chão.
Voltemos ao caminho principal, isto é manacá, e este pé é cedro. — Parece uma
árvore de natal! Ali, margaridas brancas dão contorno ao jardim, as flores
brancas em cachos, são bouquet de noiva,
mas, vamos por ali junto à cerca, vou te mostrar um pé de jambo que nunca deu
fruto, papai disse que está de pirraça,
só vai dar depois que a gente mudar ; aqui é romã, isto é urucu, serve
para temperar o arroz. — Você falou em arroz, e estou sentindo um forte cheiro
de alho! — Parece, mas não é, o cheiro vem da casca desta árvore, chama-se pau
d’álho, mamãe diz servir de pára-raios. —Vocês fizeram alguma fogueira neste
espaço aqui? — Sim, nestas noites frias
de junho e julho, papai corta os tocos,
deixa-os aqui prontos para armarmos a
fogueira, geralmente em um dos dias de Santo Antônio, São João ou São Pedro, depende de quando está em casa, aí
é aquela farra, colocamos debaixo das cinzas quentes, o aipim, a batata doce, e
a cana, colhida ali mesmo junto à casa. —Isto é inhame! — Pensei que não
conhecesse! Cozido, é só colocar melado por cima, e lamber o beiço! — Vocês
soltam balões? — Só japonês. — E fogos? — Só estrelinhas, chuveirinhos; cabeça
de nego e morteiro só papai solta. Um
dia soltei um buscapé, e ele foi buscar a roupa que mamãe colocara para coarar,
tomei uma surra. — Também pudera! — E isto aqui, parece algodão! — O algodoeiro
dá em arbustos, esta árvore é uma paineira, a paina também serve para encher
travesseiros. Este coqueiro, dá uns coquinhos, chama-se coco “catarro”, apesar
do nome é uma delícia, prove! — Que laranja é esta? — É lima da pérsia, quando
chove, a gente nem precisa sair de casa, basta esticar o braço da janela da
cozinha; cortar os gomos ao meio, e esperar a chuva passar! Estas goiabas
vermelhas são as que mamãe prefere para fazer doce, este limoeiro é de limão
verdadeiro; lá adiante tem um de limão galego, agora o nosso xodó é este pé de
jenipapo, nos dá esta bela sombra,
pode-se comer assim, retirando esta casca fina, depois esta pelica interna
junto com os caroços, que parece com
moela de frango, faz-se doce e licor, mas, meu doce preferido sai daqui, deste
pé de laranja da terra, mamãe senta aqui
bem na porta da cozinha, usa o avental como cesto, vai descascando uma a uma,
tirando tascas da casca e, é daí que inicia o processo do licor; o doce nem te
conto, é um processo todo especial, fica
vários dias no sereno, depois ela coloca açúcar cristal, deixa mais uns dias...
— Haja paciência! Aqui neste casebre papai guarda material.
— Este, aqui, interessante, em formato de V? — É carnaúba, com o vento
parece se quebrar, e as folhas na ponta do talo, com o tempo se fecham e caem
lá de cima em rodopios. Temos neste bambuzal, dois tipos de bambu, o fino, que serve
para fazer vara de pescar, e o grosso,
mais usado para artesanato; o perigo são as cobras, que aqui fazem seus ninhos.
—Cobras! Vamos sair depressa daqui! — Calma! Estamos no final! — Mas você não disse que vai até o pé do
morro? — Sim, mas dali em diante é só
laranja; temos ainda este pé de jaca manteiga, onde as abelhas fizeram esta
enorme colmeia. — O quê, abelhas? Ih!
Ali também tem outra casa de abelhas! — Naquele pé de abiu, a casa é de marimbondo. — Caramba! Só perigo em
volta. — Eles só atacam, quando a gente ataca, o animal é bem diferente de nós.
— Este pedaço lembra um pouco a mata nativa, fria, triste e escura. —Sim, você
encontra aqui muitas ervas utilizadas como remédio, para banhos, olha: capim
limão, erva de passarinho, guiné pipiu. — E isto aqui, parece café? — E é,
raquítico devido a sombra. Cuidado aqui, com este poço artesiano! — Quantos
sapos? — Aqui se encontra vários tipos e tamanhos, um sapo martelo, já era
nosso conhecido, mexia com ele, ele incha
todo. Daqui destes coqueiros em
diante veja é só laranja, são mais de 10.000 m2. — Prove deste, veja que
laranja, parece mel; vamos voltar pelo outro lado do bambuzal! Ainda temos este
pé de abiu graúdo, esta pitangueira, e
esta tamarineira; — só em pensar já fico com a boca cheia d’água.
— Êta, azedinho bom! — Vou lhe mostrar, fiz uma pequena horta. — Puxa! alface,
abóbora, chicória, erva doce, salsa, cebolinha, tomate, tem até jiló! — É o que
me dá mais trabalho, as formigas atacam. — Quantos ovos? — Este galinheiro já
foi maior, mamãe está acabando com a criação. — Aquela está chocando? — Sim, e
esta outra já está com os pintinhos. —
Que graça! Só um deles saiu com as penas da cor da mãe! — E aí, gostou? — Quem
não gostaria? — Então vamos entrar, acho que mamãe fez uns pés-de-moleque, é
bom para recuperar as energias, ou você prefere doce de batata doce roxa? —
Puxa! A cristaleira é um verdadeiro arco-íris! — Pode escolher pelas cores este
é licor de anis, este tangerina, este aqui é o de jenipapo, como lhe falei,
qual prefere? Acho que vou dar uma de provador! — Então deixe eu pegar o copo
d’água, para não haver mistura na degustação.
Texto do Capítulo "Passeando no bosque" retirado do meu Livro Álbum de Família editado em 2002
Viajando no tempo,nesse passeio.
ResponderExcluirMuito boa,a viagem!🤗
Parabéns!E bela tela!👏🏻