sábado, 7 de setembro de 2019

Além da visão


A necessidade de comunicação, vem desde os primórdios. O homem gravava desenhos nas paredes das cavernas, depois em placas de barro, até que os egípcios utilizaram o papiro para escrever. Na Roma antiga, surgira o alfabeto com apenas as letras maiúsculas, mas já usavam o pergaminho, hastes de bambu e penas de aves, para a escrita. No século VIII o monge inglês Alcuíno a pedido do Rei Carlos Magno introduziu as letras minúsculas. Em 1522 o italiano Lodovico Arrighi, criou o caderno de caligrafia, e surgiu o estilo itálico. Então os gregos, representando consoantes e vogais, e as letras uma ao lado das outras, compondo as sílabas, gerou o verdadeiro alfabeto. Assim a escrita evoluiu, pela necessidade de comunicação em sociedades e relações humanas, chegando até os nossos dias. Se outrora, os casos contados, foi passando de geração a geração, imaginemos, como alguns dos autores, com deficiência de visão, teriam escrito sem ver, diferente de compor sem escutar.Ainda sem a escrita “braille”, utilizada a princípio como código militar chamado “escrita noturna”, em 1819 pelo exército francês, para que os soldados pudessem se comunicar à noite sem falar ou usar velas, e que o estudante francês Louis Braille, aos 15 anos de idade   desenvolveu para o alfabeto braile, proporcionando   condições da leitura e da escrita para os deficientes da visão. Na literatura temos um número de autores que não se deixaram vencer por tal deficiência. Vejamos alguns:

Homero

Se você já leu os poemas épicos Ilíada e Odisseia, talvez não saiba, que sequer sabemos o  século do nascimento de Homero, que à época da Guerra de Tróia, pois, na Ilíada, descreve com detalhes. Há quem duvide, até de sua existência. E como saber se era cego? Há um detalhe: Homero, deriva de “homerus”, que significa “refém”,  muitas vezes, sinônimo de “cego” em grego, e  há documentos se referindo a Homero, como “bardo cego”, ou seja “aquele que guia os que não veem”, mais não fosse, as esculturas dão a ideia de parecer, ser de um cego. Sendo ou não, fica o exemplo de autor que dependia de outrem para escrever.
Luís de Camões


A percepção da profundidade é mais prejudicada pela falta de um olho, que se perfeita fosse. Luís de Camões, perdeu um dos olhos em um campo de batalha na África, e continuou a escrever “Os Lusíadas”, e há uma história, de que ele naufragou em uma jornada, e que os únicos sobreviventes do desastre foram o poeta e o manuscrito de sua obra-prima. Em vida, sua obra não teve o devido reconhecimento, que depois de sua morte ganharia o mundo.
John Milton
 John Milton, poeta inglês, consagrado por escrever em “versos brancos”(possuem métrica, mas não rimam), foi preso durante o curto período republicano da Inglaterra, e na prisão, ficou cego, vítima de glaucoma, e ditou o épico “O Paraíso Perdido”, onde conta a história da criação de Adão e Eva, a queda de Lúcifer e a sua expulsão do paraíso, tendo publicado posteriormente  uma sequência do poema: “O Paraíso Recuperado”, que conta a história de Jesus




James Joyce
James Joyce, escritor irlandês, conhecido como o maior escritor que todos fingem que já leram. Entre suas obras mais famosas estão: “Dublinenses”, “Ulisses” e “Finnegans Wake”, sendo o último a sua obra mais experimental. Durante sua vida, teve sérios problemas nos olhos submetendo-se a diversas cirurgias, mas jamais recuperou totalmente sua visão, e as provas gráficas eram aumentadas para que ele as revisasse, tendo que contar com a ajuda de assistentes que escreviam o que ele ditava
Aldous Huxley,
 Uma queratite pontuada, aos 17 anos, acabou por não se alistar, o que o salvou da guerra, Se formou professor na universidade de Oxford. Com os tratamentos sua visão melhorou e aos 20 anos, com lentes de aumento para ler, publicou seu primeiro livro “Admirável Mundo Novo”.





Jorge Luis Borges
Um dos grandes romancistas e ensaístas argentinos do século XX, sofreu com uma cegueira hereditária que o deixou completamente cego aos 56 anos, mas, continuou produzindo. Ironizava sua própria limitação. Nunca aprendeu Braille, e sua mãe foi sua assistente pessoal até ela morrer em 1975.  Depois da morte dela, passou a viajar pelo mundo na companhia da secretária com a qual se casaria em 1986. Poucos meses depois ele faleceu.


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